quarta-feira, setembro 19, 2001

Existem coisas em nossas vidas, que sabemos que existem , mas nunca presenciamos verdadeiramente . E há cerca de umas 3 semanas, eu estava conversando com a minha namorada e ela me contava , ter visto pessoas comendo lixo próximo ao seu local de trabalho. Ela estava transtornada e eu fiquei meio sem saber o que dizer, e também sem saber expressar alguma forma de explicação (se isto é possível em uma situação como esta) mas de qualquer forma eu fiquei ali parado sem nada para dizer... Passado essas 3 semanas, estou preso em um engarrafamento monstruoso ao ir para o trabalho e vejo na calçada oposta onde estou, um homem de uns 40 anos abrindo os sacos de lixo colocados na calçada. Ele olhava atentamente e encontrando algo aparentemente deglutível (se o lixo pode ser isso...) comia como se estivesse saboreando o melhor dos pratos , e com uma voracidade de alguém que já não devia comer a algum tempo. Caramba , acho que enquanto eu viver não vou esquecer esta cena e o que senti não dá para descrever... senti nojo de mim, de tudo . Porque tudo isso? Perdoem-me , mas não consigo aceitar, entender e encontrar explicação convincente, para esta situação. Nunca vou entender, e este é um de meus maiores dilemas: não conseguir conviver com tamanha desigualdade neste mundo. Talvez aqui se explique a minha paixão interminável pela música , pois ela não te pede nada em troca, ela não te tira nada , ela não te magoa ,não te faz sofrer, e como todos nós precisamos de uma "válvula de escape", na música eu preencho aquele imenso espaço vazio que existe dentro de mim , onde a dor procura sempre se alojar e criar raízes . A música serve como lenitivo , um antídoto para todo este sentimento de perda e frustração.
Cheguei em uma parte do livro Mate-me por favor , que é barra pesada : muitas drogas e drogas e mais drogas , não sei como esses caras conseguiam sair de casa para ir até a esquina. Só a música mesmo pra dar força para eles continuarem "vivos e chutando"

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